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COM A PALAVRA

Com a palavra Ivan Dias
Autor do poema Interiores e de 5 livros.

Natural de Sete Lagoas (MG) e radicado em Londrina (PR), Ivan Dias construiu sua trajetória entre a ciência e a poesia. Professor por 35 anos no Departamento de Física da Universidade Estadual de Londrina, publicou diversos livros na área científica e cinco títulos de poesia: Apanhado de um Outro Olhar (2009), Olhares do Interior (2010), O Céu das Coisas (2016), A Rua que eu habitava (2017) e Drumondiando (2024).

Em seu mais recente trabalho, o vídeopoema Interiores, Ivan mergulha em reflexões sobre o tempo, a memória e o olhar íntimo sobre a existência — temas que atravessam sua escrita de maneira delicada e filosófica. Nesta conversa, o autor fala sobre o processo criativo, suas influências e o encontro entre a Física e a poesia.

1 – O videopoema Interiores revela uma imersão sensível e reflexiva no universo das emoções e memórias. Como surgiu a inspiração para esse poema e o que o motivou a transformá-lo em vídeopoema?

Eu estava saindo de um período depressivo e pude observar que, à medida que refletia mais sobre mim mesmo e me cuidava com uma psicóloga, os motivos que me levaram a esse período ficavam cada vez mais claros. Saí desse processo melhor, e inclusive me dispondo a publicar as poesias que havia muitos anos eu escrevia, mas que ainda tinha dúvidas sobre publicar ou não. Daí comecei a publicar e em determinado momento, submeti um de meus trabalhos a um projeto do LONDRIX, o Poesiavoando, e um poema meu foi selecionado. Isso em 2022. Esse é o terceiro áudio visual de poesias minhas, sempre incentivado pela Chris e, no primeiro, pelo falecido Antônio Mariano. Espero ainda fazer outros.

2. O título Interiores sugere uma viagem para dentro (da memória), do corpo e da alma. Que “interiores” quis explorar ao escrever esse texto?

Interpretei o período depressivo como um período de escuridão. E à medida que me tratava, mais autorrefletia, era como se fosse descobrindo, a cada dia, coisas que tinham ficado ao longo de minha trajetória, que me possibilitavam jogar alguma luz sobre os porquês que estavam escondidos. Assim fiz uma correlação entre esse período e, como está no poema: “Precisei entrar na escuridão da noite para ver as estrelas” e entender que estava fazendo “uma caminhada para o interior de meu próprio chão”.

3. Você tem uma longa trajetória como professor e pesquisador em Física. Como essa experiência científica dialoga com sua escrita poética? Há um ponto de encontro entre ciência e poesia em sua obra?

Sempre gostei de escrever, desde a adolescência. Optei pela Física por querer ser um cientista, mas o que posso dizer é que a vontade de escrever (poesias) precede minha carreira científica. Alguns se admiram de um Físico fazer poesia, mas gosto de dizer que “Físico também é gente”!! Rs. Não posso dizer que haja alguma confluência entre a carreira científica e a poesia.

4. Sua produção literária já conta com cinco livros de poesia. Como percebe a evolução de sua escrita poética desde Apanhado de um Outro Olhar até Drumondiando?

Em meus primeiros trabalhos, nos três primeiros livros, a temática era bem solta, sem nenhum fio condutor para o conjunto de poesias. A partir do quarto livro, “A rua que eu habitava”, procuro desenvolver o trabalho de forma mais enquadrada, se posso assim dizer, dentro de uma linha mais específica.

5. Seus versos trazem uma observação atenta das coisas simples e um olhar sobre o cotidiano. Que autores ou leituras mais influenciaram sua forma de ver e escrever o mundo?

O autor que mais me influenciou foi Carlos Drummond de Andrade. Nele encontrei um jeito de escrever sem a necessidade da rima, sem a “armadura” da métrica. Gosto de dizer que a liberdade abriu suas asas sobre mim; métricas, rimas poderia fazer versos com, mas sem a obrigação de fazê-lo.

6. Como foi o processo de criação do vídeopoema? Você participou das decisões visuais e sonoras ou preferiu deixar que a direção interpretasse o poema livremente?

O processo de criação passou por uma discussão inicial com a Chris Vianna, e o Carlos Fofaun, em que decidimos conjuntamente, a partir de uma proposta inicial de 4 poemas, qual deles seria o escolhido. Tomada a decisão, eles desenvolveram a ideia livremente. É um processo interessante, muito interessante, ver como outras pessoas interpretam o que se escreveu e como traduzem em outra linguagem. Assim, prefiro deixar a interpretação para a direção.

7. Você é mineiro de Sete Lagoas, mas vive há muitos anos em Londrina. Essas duas paisagens — Minas e o Norte do Paraná — influenciam de modos diferentes sua poesia?

Não acho que haja influência. A propensão para escrever já se revelava em minha adolescência, lá no interior de Minas. Escrevi poemas, muitos que até mesmo deixei de lado, nem mesmo os tenho mais, em todos os lugares por onde passei.

8. Compartilhe como e quando começou a escrever poesia? Houve algum momento ou leitura decisiva que o levou a se assumir como poeta?

Não me lembro exatamente quando comecei. Sei que foi em Sete Lagoas, na adolescência, quando fazia o ginásio. Nos livros textos da disciplina de Português, havia poesias, de autores como Drummond, Olavo Bilac, etc. Acho que isto me despertou para a escrita. O momento em que tomei a decisão de publicar e me assumir como poeta ocorreu em 2009, quando lancei meu primeiro livro “Apanhado de um outro olhar”.

9. Há algum novo livro de poesia em preparação? Poderia nos contar um pouco sobre o caminho poético que está explorando neste próximo trabalho?

Estou finalizando um novo livro, “Palimpsesto”. Deve ser publicado no próximo ano. Nele trato das fontes múltiplas de inspiração para os temas das poesias e remeto o leitor às influências que me levaram a escrevê-los.